Hoje escrevo com o coração apertado, tentando encontrar as palavras certas para homenagear uma mulher cuja presença iluminava não só os corredores da Santa Casa de Cachoeiro, mas também a alma de todos que tiveram o privilégio de conhecê-la. Irmã Otília, nossa querida “Anjo de Cachoeiro”, nos deixou aos 91 anos, após uma vida inteira dedicada ao amor, à fé e ao cuidado com o próximo.
Sebastiana Rodrigues Valadão, nome de batismo da nossa amada irmã, nasceu em Oliveira, Minas Gerais, e desde jovem sentia um chamado especial para servir. Foi com apenas 17 anos que decidiu trilhar o caminho da vida religiosa, uma decisão que mudou não apenas sua própria história, mas a de milhares de pessoas que cruzaram seu caminho. Em 1960, recebeu o hábito religioso e, anos depois, fez seus votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência. Em 1966, chegou a Cachoeiro de Itapemirim e nunca mais saiu dos nossos corações.
Durante décadas, Irmã Otília foi uma presença constante na Congregação das Irmãs de Jesus na Eucaristia, no Colégio Jesus Cristo Rei, e principalmente na Santa Casa de Misericórdia, onde seu papel ia muito além de uma visita espiritual. Ela era consolo nos momentos de dor, sorriso nas horas difíceis e fé nos dias mais sombrios. Quem teve a chance de ser acolhido por ela sabe o quão reconfortante era ouvir sua voz suave, sempre com uma palavra de esperança.
Mesmo nos últimos anos de sua vida, enfrentando um câncer no fígado e outras limitações da idade, Irmã Otília nunca abandonou sua missão. Em 2023, após passar dias na UTI, ela retornou aos corredores da Santa Casa com a mesma dedicação de sempre, mostrando que o amor verdadeiro supera qualquer desafio. Seu retorno foi marcado por emoção, aplausos e muitas lágrimas – um reconhecimento espontâneo e sincero de toda a comunidade cachoeirense.
Seu falecimento deixa um vazio profundo, mas também um legado imenso. A Prefeitura de Cachoeiro decretou luto oficial de três dias, e a Santa Casa manifestou publicamente sua gratidão e pesar. Mas o verdadeiro tributo vem das ruas, das pessoas simples, dos pacientes, dos profissionais de saúde, dos familiares – de todos que, em algum momento, sentiram a presença divina que ela carregava.
Irmã Otília nos ensinou que não é preciso ter grandes posses para transformar vidas. Ela nos mostrou que a maior riqueza está em servir, em ouvir, em acolher. Sua simplicidade era desarmante. Sua fé, inabalável. Sua bondade, infinita.
Hoje, Cachoeiro não apenas chora sua partida. Celebramos a vida de alguém que foi farol em tempos de escuridão. Que seu exemplo continue nos guiando. Que sua memória viva em cada gesto de amor que praticarmos.
Descanse em paz, Irmã Otília. O céu ganha uma estrela, e nós ganhamos um motivo a mais para sermos melhores.